Conheça Dalton Paula, egresso da UFG com obras em museu de Nova Iorque
Entrevista com o artista inaugura uma série de reportagens que mostra trajetórias de egressos da Universidade
Texto: Ana Paula Vieira
Dalton Paula, bacharel em Artes Visuais pela UFG, é um dos egressos da Universidade que tem ganhado projeção internacional na carreira e levado o nome da instituição para diversos locais. Recentemente, quatro dos 24 retratos produzidos por Dalton para a exposição Kidnapper of Soul, da Galeria Alexander and Bonin, passaram a integrar o acervo do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (Moma) após o curador de arte Henry Kravis comprá-los e doá-los ao Museu.
O currículo de Dalton soma vários outros prêmios e destaque nos meios culturais, trajetória que passou pela Faculdade de Artes Visuais (FAV/UFG) entre os anos de 2007 e 2012, quando o então estudante ainda era bombeiro militar e se equilibrava entre as escalas de trabalho e as manhãs de aulas na Universidade. “Muitos dos alunos que vêm de classes sociais populares têm esse desafio de como se manter e ao mesmo tempo não parar os estudos. A profissão de bombeiro foi enriquecedora e gratificante, mas a coisa foi ficando tão séria que eu tive que escolher e a partir de 2016 exerço a função exclusiva de artista visual”, explicou Dalton.
O artista destaca a importância da formação na UFG para o seu crescimento: “A Universidade foi importantíssima no processo de formação do indivíduo, do ser humano, do conteúdo. Quando comecei a circular e o trabalho foi ganhando espaços fora de Goiás, me sentia muito à vontade e confortável, seguro do conteúdo. Tenho um carinho muito especial pela UFG e pelos professores. Falo sempre por onde passo que é muito importante para a sociedade o ensino gratuito e público das universidades”. A valorização da universidade pública continua na postura de Dalton, pela sua vontade de seguir próximo à UFG. Em seu ateliê, que fica perto do Câmpus Samambaia, o artista conta com estagiários da Universidade e, além disso, mantém o contato com professores. Em entrevista à Sempre UFG, ele relembrou momentos na instituição e contou como a formação se reflete na sua carreira.
Quais são suas principais lembranças de quando estudou na UFG?
Sinto muita saudade do prédio, do lugar. A UFG sempre apoiou bastante iniciativas no campo das Artes Visuais e um dos exemplos era o Salão Flamboyant, onde as pessoas que acompanhavam eram estudantes da UFG e onde cheguei a passar três, quatro horas conversando com os monitores, querendo saber como fazia para entrar na Universidade. Toda vez que eu vou ao campus da UFG eu sinto uma energia no sentido da energia do conhecimento, um lugar que traz a possibilidade de aprender e de alguma forma se conectar com o lugar da formação, do aprendizado, do ensino. Eu sinto falta de estar nesse lugar que é um porto seguro afetivo do campo do conhecimento.
Quais foram os reflexos da formação na UFG para a sua vida e carreira?
Em termos profissionais, me senti muito preparado para enfrentar o mercado, por exemplo. Não tive grandes medos, principalmente em relação ao campo da pesquisa, que é uma das coisas que eu acho que é um diferencial no meu trabalho. A questão do pesquisador foi muito bem ensinada, com vários professores, e isso faz com o que o trabalho se diferencie de outros. Criei uma base sólida e concisa com o que foi ensinado.
Você ainda mantém o vínculo com a Universidade? Como?
Por meio do estágio, da parceria com professores, projetos formais e informais. De alguma forma fico pensando muito sobre qual é o meu papel de artista, morando em Goiânia, estando no estado de Goiás, tendo circulação nacional e internacional. Qual o meu papel de artista para com esse lugar onde eu moro. Estou construindo um ateliê pertinho do Câmpus, onde vai funcionar uma escola de artes, então penso que podem se concretizar outras parcerias com a UFG e de alguma forma compartilhar o que eu aprendi com a nova geração e com a comunidade. Para mim, a arte e a educação são transformadoras, são capazes de mudar os indivíduos. Quero poder proporcionar isso para outras pessoas, é como uma herança que eu tenho. Muitas pessoas me ajudaram, eu tenho gratidão e agora tentarei compartilhar isso com outros.
Um dos temas do seu trabalho é a representatividade negra. Como era na Universidade, quando você estudou na UFG? Acha que houve avanço?
A atuação do movimento negro e essa exigência das ações afirmativas, uma delas a cota, proporcionaram mudanças. Acredito que o conhecimento precisa ser diverso. Quanto mais diversidade melhor, de gênero, raça, e a universidade hoje está mais colorida. Poderia estar bem mais, mas já é bem diferente do que quando entrei. Quem ganha com isso é a universidade e a sociedade, tendo uma riqueza maior com pontos de vista diferentes e abordagens do conhecimento de diversas facetas. Uma coisa que a gente precisava lutar bastante é para isso passar para o corpo docente também, é muito importante que estudantes negros e negras tenham essa referência de professores e professoras negras. De forma geral tiveram muitas conquistas mas ainda é muito grande o desafio do futuro. A universidade tem um papel muito importante nisso e pode ser um lugar muito forte e potente.
Obras recentes de sua autoria integram o Museu de Arte Moderna de Nova Iorque. Como tem sido esse processo de internacionalização do seu trabalho?
Estou muito feliz com tudo que anda acontecendo e eu sempre repito: eu me vejo como um instrumento sendo usado para dar continuidade ao trabalho de muitos homens e mulheres negras do passado. Estou apoiado no ombro de grandes pessoas para dar continuidade a esse trabalho e tentar deixar uma contribuição para a nova geração. É algo que me enche de alegria e vem com bastante responsabilidade também, pensar a continuidade desse trabalho. Estou sempre pensando em uma coisa de bastante qualidade, com conteúdo, para que possa fazer diferença, fazer sentido e contribuir. A gente tem muita dificuldade, por exemplo, de acessar alguns lugares, principalmente os espaços voltados ao poder. É uma ação política de ocupar galerias, museus, lugares onde são contadas muitas histórias. Eu quero contar as minhas histórias, das pessoas negras, das pessoas da comunidade, para que não sejam contadas só por homens, brancos, hetero. Que tenha diversidade e isso possa contagiar outras pessoas no sentido de se verem ali representadas. É um processo de legitimação que vai fortalecendo e ajuda a fomentar o ateliê, a escola, tornando-se uma grande cadeia que vai se encaixando.
Para saber mais sobre a obra de Dalton Paula e entrar em contato, acesse o site www.daltonpaula.com.
É egresso da UFG e quer contar a sua história para a gente? Entre em contato: sempreufg@ufg.br.
Fonte: Sempre UFG
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