Trabalho da egressa Lauanda Meirielle une Literatura e Ciências Sociais
Ao aproveitar oportunidades oferecidas pela UFG, entre elas um intercâmbio, Lauanda abriu caminhos para uma nova vida na Colômbia
Texto: Ana Paula Vieira
Fotos: Acervo pessoal
Lauanda Meirielle, egressa do curso de Ciências Sociais da UFG, viveu intensamente a Universidade e aproveitou as oportunidades: entre 2010 e 2014, quando estava na graduação, foi monitora durante um ano, participou do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid) por três anos, foi presidente do Centro Acadêmico de Ciências Sociais, foi integrante do Diretório Central dos Estudantes (DCE) em duas gestões, aprendeu Espanhol no Centro de Línguas e fez um intercâmbio em Bogotá, com inventivo da UFG e bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
O período na Colômbia abriu outros caminhos que a então estudante não imaginava: “O intercâmbio abriu outra vida totalmente diferente, que eu não esperava. Uma oportunidade que eu não tinha sonhado antes de entrar na UFG”. O momento foi tão importante que, depois da formatura, ela voltou para a Colômbia, se casou e hoje em dia é mãe de gêmeas e empreendedora no país: tem uma empresa que presta assessoria a Organizações Não Governamentais e instituições públicas e privadas no desenvolvimento de projetos sociais.
Além de atuar na sua área de formação, Lauanda também está ganhando destaque em outra atividade: a escrita. Em 2020, foi aprovada em três convocatórias com textos em prosa e poesia que começou a produzir como reflexo da condição de migrante. Em entrevista ao Sempre UFG, ela contou sobre essa trajetória que reflete todo o aprendizado que teve na Universidade.
Qual é a sua história com a UFG?
Eu entrei em 2010 no curso de Ciências Sociais, terminei em 2014/1 e entrei para o curso de Biologia em 2014/2, mas não terminei porque em 2016 iniciei o mestrado em Sociologia. Em 2017 fiz intercâmbio para Bogotá e voltei em 2019. As Ciências Sociais, em suas três áreas - Antropologia, Ciência Política e Sociologia, dão criticidade para observar coisas ao nosso redor. Os contos que escrevo, por exemplo, normalmente não são fantásticos, abordam coisas que acontecem na nossa sociedade. Sempre gostei muito de escrever, então comecei a juntar tudo que eu sei da teoria sociológica, com a escritura. Os personagens sempre trazem um autor, uma teoria, algo que consigo trabalhar dentro das ciências sociais.
Quais são suas principais lembranças daquela época?
Eu amo a UFG e eu amei a graduação na UFG. O que mais ficou foi o momento político porque fui presidente do Centro Acadêmico de Ciências Sociais, fui do DCE durante 2 gestões e me formei nos âmbitos pessoal e profissional ao mesmo tempo; descobri coisas sobre mim e sobre o mundo ao meu redor. Foi uma das coisas mais importantes que aprendi na UFG. Eu conseguia ser profissional, militante política e as duas funções eram enriquecedoras para mim enquanto pessoa. A luta pelo passe livre, em 2011 e 2012, foi quando a gente conseguiu, junto com a Reitoria, mudar a rota da linha 263, e mais ônibus da linha 170. Essa luta ficou muito marcada na minha trajetória acadêmica.
Quais foram os reflexos da formação na UFG para a sua vida e carreira?
A formação na UFG foi muito completa, primeiro porque o curso tem três ciências sendo trabalhadas. Em outras universidades, o mesmo curso tem só duas, nós temos as três formações, temos mais amplitude no objeto de estudo, conseguimos ver o mesmo objeto por três perspectivas diferentes. A qualidade do ensino é muito superior às outras universidades que conheci e tenho acesso nesse momento. A Biblioteca do Câmpus Samambaia, que é incrível - aqui na Colômbia não conheço nenhuma desse tamanho, com computadores grátis, acesso à internet, impressão, tudo fácil e ágil. O Câmpus Samambaia é muito grande, temos muito espaço para fazer atividades fora da sala de aula, temos cinema, não precisamos sair da universidade para ter acesso à cultura, tem as calouradas, shows… Muita coisa que eu tinha acesso por estar na UFG. Só tive acesso ao espanhol pelo Centro de Línguas e, como estudante da UFG, pagava 200 reais por seis meses. Consegui ter o espanhol em nível C1, que é o maior para estrangeiros. Moro na Colômbia e consigo entrar em tantos espaços porque consigo falar e compreender bem o espanhol. Não imaginava escrever tão bem em outro idioma.
Você ainda mantém o vínculo com a Universidade? Como?
Hoje faço doutorado em Antropologia e sempre volto aos meus professores pedindo bibliografia, orientação, nunca deixei de fato de estar próxima da UFG. Agora na pandemia, participei de todos os eventos online, participo também de grupos de estudo. A qualidade de ensino é muito alta. Tenho acesso a professores que me dão liberdade de apresentar bibliografias e trabalhá-las de acordo com a minha perspectiva. Atualmente, meu doutorado é na Bircham University, em Miami, e estou como aluna ouvinte na Universidade Nacional da Colômbia.
Quais são os principais temas do seu trabalho?
Os principais temas são gênero e migração. Eu sou uma pessoa migrante e isso traz vontade de escrever. Às vezes também escrevo por saudade. Eu precisava escrever, trabalhar isso comigo mesma: crio um personagem e trabalho a saudade da sua casa e do seu lugar. Atualmente, me sinto entre-lugares, não me sinto tão goiana e também nem tão colombiana, e às vezes é necessário verbalizar isso na escrita, na fala, para poder sobreviver a essa saudade, nostalgia e melancolia tão grandes que temos do nosso lugar. Aqui é um pouco difícil de fazer amigos, tem uma história muito triste do narcotráfico e as pessoas têm muito medo do outro. Há uma lógica de competição feminina, dificuldade de entrar em alguns lugares. Além disso, também sofro distinções pela idade e pela vida acadêmica.
Você teve três trabalhos aprovados em convocatórias somente em 2020. Como tem sido esse processo de visibilidade da sua obra? Quais seus projetos futuros?
Eu escrevia muita coisa e nunca publicava, acho que a gente tem um pouco de vergonha de publicar porque com tudo que você publica, você transmite para o leitor uma ideia sobre você. Na gestação eu parei de trabalhar, dei uma pausa, mas me bateu um sentimento: e meus filhos? Quero que eles conheçam minha história, de onde eu vim, como eu vim, e comecei a escrever coisas para eles. Quero que eles saibam quem eu fui e o amor que tenho por eles. Então comecei a procurar convocatórias e agora as pessoas de páginas de poesias nas redes sociais estão me procurando para publicar.
Algumas das obras de Lauanda aprovadas em convocatórias estão disponíveis em: https://itabooks.com/producto/barco-de-papel-2/ e https://itabooks.com/producto/barco-de-papel/. Para acessar mais trabalhos e entrar em contato com a autora, siga o perfil @lau.literatura no Instagram.
É egresso da UFG e quer contar a sua história para a gente? Entre em contato: sempreufg@ufg.br.
Fonte: Sempre UFG
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