Publicitária Fernanda Mendonça questiona padrões de consumo
Egressa da UFG criou marca que tem como princípio o consumo consciente e contou como reflexões na Faculdade influenciaram essa trajetória
Texto: Ana Paula Vieira
Fotos: Acervo pessoal
Fernanda Mendonça cursou Publicidade e Propaganda na UFG entre os anos de 2007 e 2010, depois estudou Moda e hoje gerencia a Mínima, marca especialista em roupas básicas e pautada em valores como sustentabilidade e consumo consciente. “Tive que ir para a moda para entender que na verdade eu sou publicitária mesmo”, analisa Fernanda. Hoje, ela se declara apaixonada pela Comunicação, mas também lembra de um momento de “crise” durante a disciplina de Comportamento do Consumidor, que a fez questionar a forma como as pessoas consomem: “Foi uma virada de chave”, afirma a empresária.
Em meio aos questionamentos e aos reflexos das discussões sobre consumo, Fernanda destaca a importância da formação acadêmica para o seu posicionamento atual, mas pondera que a participação ativa do estudante na vida acadêmica também é fundamental: “Para mim a Universidade teve um valor pessoal incrível, acho uma instituição muito importante, que deve ser valorizada, mas o tempo da Universidade é mais lento, é uma instituição enorme, que é pública, depende de muitas aprovações, então a gente tem que cutucar o professor, falar olha, eu vi isso aqui, vamos trazer para a turma conhecer, debater”, ponderou Fernanda. Em entrevista ao Sempre UFG, ela lembrou ainda experiências que vão além da grade de disciplinas e comentou a importância da formação empreendedora para os estudantes que querem seguir esse caminho.
Quais são as principais lembranças que você tem da UFG?
A Publicidade estava passando por um momento de transição para as câmeras digitais, mas chegaram as analógicas, então eu me lembro um pouco disso, a estrutura era um grande desafio e os professores se viravam muito porque a tecnologia estava começando a avançar muito rápido. A gente tinha que correr atrás para conseguir acompanhar. Eu via esse desafio dos professores, mas ao mesmo tempo era uma fase muito boa, com muito investimento do governo. Eu trabalhei na Ascom [Assessoria de Comunicação, hoje Secretaria de Comunicação] um ano e meio. Foi muito bom, uma oportunidade muito boa de conhecer não só a universidade, mas entender a infraestrutura, pró-reitorias, me envolver com projetos. Na época estava começando o projeto da coletiva seletiva, que era meu xodó. Eu me envolvi também no projeto da professora Lisbeth no Xangri-lá, chamado Pezinho de Jatobá. Uma oportunidade muito boa, era bem gostoso. Esses projetos foram muito engrandecedores pessoalmente.
Como a formação acadêmica na UFG influenciou na sua trajetória de vida?
A disciplina de Comportamento do Consumidor, da professora Thalita [Thalita Sasse, da Faculdade de Informação e Comunicação], foi a que me fez pensar que eu não queria sair da faculdade e fazer o que o mercado estava oferecendo. Foi nessa matéria que eu falei: para que lado eu vou? Para o lado que está apoiando esse pensamento que trata o consumidor como uma massa moldada ou para o lado que vai fazer alguma diferença, que é dar o poder de escolha, esse poder de defesa para o consumidor? Foi uma virada de chave, entrei em uma crise muito forte de pensar se era isso mesmo que eu queria. Eu já me formei pensando: o que eu vou fazer com o que eu aprendi em relação à comunicação, que é realmente uma área que eu sou apaixonada? É o que eu amo fazer, o que eu amo é me comunicar. A parte que eu mais gosto no meu negócio é a parte de trazer conteúdo, de falar com as pessoas. Eu acho que essa crise foi muito importante pra eu ver se era isso mesmo, para eu sair do mundo de agência. Quando eu trabalhei na Ascom era na área de atendimento, e eu gostava muito exatamente pelo contato com o cliente; eu conhecia projetos novos, não ficava nos bastidores junto com o pessoal da parte que ficava só ali no computador. A Comunicação é o que eu amo fazer e é o que eu faço hoje.
Hoje, na sua vida profissional, você utiliza o que aprendeu na Publicidade na UFG?
Muito. Eu lembro das aulas de semiótica, de antropologia, de psicologia. Peguei muito núcleo livre na Moda. Hoje eu trago no meu trabalho: quando estou ajudando uma pessoa, estou ensinando a representar coisas por meio da roupa. O que ela quer comunicar? Isso é semiótica pura. Sobre psicologia do consumidor: eu falo para minhas clientes: vai pensar, não se deixa levar não. Eu uso o conhecimento que eu tenho para munir meu cliente de conhecimento também, para ele consumir de uma forma mais consciente. A Faculdade de Moda me deu técnicas da modelagem, tecido, dia a dia de produção, mas o que faz o diferencial da minha marca é que eu não vendo roupa, eu vendo conteúdo. Eu vendo esse conhecimento que está por trás da roupa e da nossa relação com ela.
O empreendedorismo tem sido a opção de muitos jovens da nossa geração. Quais são suas dicas para quem está na Universidade e pretende seguir esse caminho?
Acho que muitas vezes a Universidade forma pessoas para serem empregados, agora que estão tendo iniciativas de formar pessoas para serem donos. E a gente tem que entender que de uma turma, grande parte vai sair pra começar negócios próprios. Esse olhar, de não ser passivo, ser ativo, acho que é uma das coisas mais importantes no mercado. Mesmo que a gente saia pra ser funcionário por um tempo, para depois empreender, a gente tem que ter um olhar ativo e um olhar de bastidores, de entender o porquê. Quando a gente forma, a gente sai com a sede do mundo, querendo entrar para as empresas e fazer a mudança, mas muitas vezes a gente não entende porque a empresa está do jeito que está. Eu queria revolucionar a empresa, mas eu nao sabia quanto a empresa pagava de imposto. Eu não sabia quanto custava ter um funcionário, eu não sabia o quanto era dificil criar uma cultura dentro de uma empresa. Então eu penso que essa visão empreendedora é muito importante de ser implementada pela universidade em todos os cursos, porque os médicos que se formam, muitos vão abrir as próprias clínicas e eles não vão entender nada de contabilidade, direito. Eu penso assim: a Universidade não pode se responsabilizar por tudo, não dá para fazer tudo isso, mas eu acho que o aluno tem que ter essa postura de bastidor e de pró-atividade, de entender o porquê das dificuldades que as empresas têm, que o lugar onde ele está trabalhando tem e tentar entender que quando ele tenta empreender são essas dificuldades que ele vai ter que abraçar. Então a pessoa que sai com o conhecimento técnico e teórico, para ser empreendedor ele vai ser muito mais empreendedor do que aquilo que ele se formou. Eu sou muito mais resolvedora de pepino do que publicitária, quando eu tenho empresa. Então a gente tem que se questionar se a gente ama isso.
Um dos princípios da sua marca é o consumo consciente. Você também questiona a cadeia produtiva do segmento da moda. A formação acadêmica te ajudou, de alguma forma, a fazer esses questionamentos?
À medida que eu fui trabalhando e entrando um pouquinho no mundo da moda, eu fui entendendo o que na verdade as pessoas estão entendendo agora, que a moda tem sido construída em uma cadeia que não se sustenta, assim como muitas indústrias. E aí entendendo isso, eu comecei a tentar trabalhar as duas coisas, tanto a ponta do consumidor quanto a ponta de quem está produzindo. Então internamente a gente tenta criar uma cadeia justa, sabendo que a pessoa que faz a roupa tem uma importância muito grande para o negócio. Por outro lado, às vezes as pessoas não se importam muito com essa pessoa que faz a roupa, então elas querem sempre comprar mais, mais barato e mais rápido, se esquecendo que quem produz aquilo ali às vezes é uma pessoa muito mal paga, em condições de trabalho ruins, horas de trabalho abusivas etc. Esses são dois pontos que o novo empreendedor da moda tem no desafio de trabalhar: como fazer uma cadeia mais justa, respeitando essas pessoas que tem uma importância muito grande para a indústria da moda, fazer com que todos entendam mais quem são essas pessoas, como elas vivem, como estão sendo pagas, como elas estão trabalhando, dar condições mais justas e ao mesmo tempo educar o consumidor no sentido dele entender porque ele tem que se conectar com essa pessoa. A partir do momento que você sabe que tem uma pessoa que fez a sua roupa e que essa pessoa tem 3 filhos na escola pública, não tem plano de saúde, às vezes mora a 2 horas de trabalho e tudo mais, você às vezes não vai querer pagar tão barato naquela roupa, você vai topar pagar um preço mais justo para valorizar essa cadeia. Você vai pensar mais, porque se você está pagando mais, não vai conseguir comprar tanta coisa sem necessidade, então vai repensar um pouco sua forma de consumir. E a gente vai ligando uma cadeia de sustentabilidade que tem a ver com isso; e quando a gente fala em sustentabilidade não é só meio ambiente, tem a parte cultural, social, política, financeira, todas as partes.
O trabalho de Fernanda na marca Mínima pode ser acompanhado no site minima.store e no perfil do Instagram @minimaoficial.
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Source: Reitoria Digital/UFG
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