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Da graduação ao doutorado: dr. Reinaldo Satoru se formou na UFG e hoje atua no HC

Em 08/01/21 11:14.

Em 18 anos de experiência no HC, médico passou por pandemias e testemunhou a evolução tecnológica do Hospital e da saúde em geral

 

O ginecologista e obstetra Reinaldo Satoru Azevedo Sasaki estudou na UFG da graduação ao doutorado. Formado em Medicina, passou em quatro processos seletivos para residência em Goiás e em outros estados, mas escolheu ficar no Hospital das Clínicas da UFG (HC/UFG). Depois, fez mestrado e doutorado em cursos multiprofissionais da instituição, ampliando sua formação através do contato com pessoas de outras áreas da Saúde.

Atualmente, é chefe da Unidade de Saúde da Mulher do HC/UFG, atendendo gestantes de alto risco e acompanhando residentes e estudantes. Há 18 anos, o dr. Reinaldo faz questão de dar o plantão no sábado a noite: “É uma escolha minha”, afirma. Neste tempo de experiência no HC, testemunhou importantes fatos históricos para a saúde: o acidente com o Césio 137 em Goiânia e três pandemias: a de HIV/Aids no início da década de 1990; a de H1N1 em 2009 e, atualmente, a de Covid-19. “Talvez por isso a gente não assuste tanto”, analisa. 

Alguns desses momentos ocorreram em uma época em que a tecnologia médica ainda não era tão avançada, o que exigia ainda mais dos profissionais: “A gente tinha estetoscópio, aparelho de pressão e a cabeça para trabalhar”. Em entrevista à Sempre UFG, ele contou sobre sua trajetória profissional, analisando essa evolução tecnológica e a atuação médica nos diferentes momentos históricos.

Em que época estudou na UFG, em quais cursos?

Eu entrei em 1987 no vestibular na Faculdade de Medicina. Terminei no final de 1992 e me formei no início de 1993. Fiz um ano de serviço militar e depois residência médica em ginecologia e obstetrícia em 1994 e 1995. Depois eu voltei no concurso para o cargo de médico em 2002. Já tenho 18 anos como médico do Hospital das Clínicas (HC). Fiz o mestrado em Saúde Coletiva, no Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva e depois o doutorado em Ciências da Saúde na UFG. 

Quais são suas principais lembranças da época da graduação?

A gente começa o curso no Câmpus II, são três anos e no terceiro a gente começa a vir para o Hospital uma hora ou outra. Parece que hoje isso mudou um pouco, antes era mais ou menos na metade do curso e aí no quarto, quinto e sexto anos era tudo no HC. Chegávamos meio perdidos aqui… Literalmente, entrando na lavanderia achando que era enfermaria. Sempre considerei os professores muito bons, a gente respeitava muito. Eram catedráticos, a gente tinha até medo de conversar com eles, não tínhamos intimidade com o professor. Hoje em dia conversa como se fosse amigo, antigamente era quase um Deus! Eles eram tão bons que a gente não tinha muito o que conversar; eles davam a aula, a gente entendia perfeitamente o que tinha que fazer e depois era por nossa conta, estudar. Lembro do professor Delfino da Histologia, o professor Vilela da Fisiologia, o professor Félix da Cirurgia Geral. A partir do quarto ano comecei a dar plantão voluntário na Maternidade Nossa Senhora de Lurdes, então comecei a trabalhar com ginecologia e obstetrícia. Quando fui fazer a residência, passei em quatro cursos: Ginecologia em Botucatu (Unesp), no programa do antigo HGG (que estava virando materno-infantil) e no HC/UFG e em cirurgia vascular no Hospital do Servidor em São Paulo. Optei por ficar mesmo na UFG e não me arrependo. Foi mto bom ter ficado aqui. No último ano perdemos três colegas em um acidente de carro, indo para um congresso no interior de Goiás, foi uma formatura de muita comoção.Mas nossa turma realmente foi uma turma muito boa, o ensino bem consistente. Temos colegas de sucesso, de renome, que fizeram residência em vários lugares do país e do mundo, como Alemanha e Estados Unidos. Foi uma formação de excelência, saímos preparados para fazer muita coisa. 

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Dr. Reinaldo durante a época de estudante na UFG

 

Quais foram os reflexos da formação na UFG para a sua vida e carreira? 

Acho que ampliou muito. O mestrado e doutorado foram multiprofissionais, o que abre muito a cabeça do ponto de vista de ver outras áreas. Aprendi muita coisa em Nutrição, me marcou muito a parte de Enfermagem, outras áreas da Medicina também. Tive contato com gente da cardiologia, da neurologia, foi mais um momento de ampliação do leque de conhecimento. Dou muito valor ao conhecimento, fiz mestrado e doutorado mesmo sabendo que não ia ser professor, foi por opção de conhecimento mesmo. 

Quais as diferenças do HC na época de estudante e agora, prestes a inaugurar a nova sede?

A parte estrutural, o prédio ainda era o mesmo, mas agora estamos mudando para a unidade nova do Hospital. A diferença é que antes a gente tinha estetoscópio, aparelho de pressão e a cabeça para trabalhar. Para escutar o coração do nenê, usávamos o pinard, hoje tem um aparelho eletrônico que se chama sonar. Quando inaugurou a tomografia foi uma coisa de outro mundo, hoje tem em toda esquina cidade… A parte tecnológica, apesar do prédio ser antigo, evoluiu muito e agora estamos mudando para o novo. 

Na Ginecologia e na Saúde em geral, quais foram os fatos mais marcantes na sua carreira?  

A maternidade aqui tem uma característica, é maternidade de alto risco. A clientela é diferente porque são gestações de risco, pacientes ficam internadas muito tempo antes de ganhar nenê, que às vezes fica no berçário, na UTI por muito tempo. Temos bastantes casos bem complexos. Atendemos muitas gestantes com Covid, fiz muitas cesarianas de pacientes graves com Covid. Uma delas ficou dois meses em coma, gestante, foi embora para casa ainda com alguns cuidados, ela renasceu. A obstetrícia e UTI Covid daqui são serviços de excelência, a taxa de mortalidade do hospital é mínima. Então a gente considera isso nossa missão mesmo, não é uma exceção, o nosso normal é o atendimento de alto risco. Quando eu era estudante, teve o acidente do Césio, que foi muito marcante, foi uma situação quase de guerra, a cidade isolada, ninguém queria vir pra Goiânia, tinha esse preconceito. Outra coisa, foi que pegamos o início da pandemia de HIV/Aids na década de 1990.  Foi uma coisa que chegou, muito parecida com o Covid agora. A gente sabia que era mais um pânico e que ia virar uma coisa comum, vamos dizer assim. Sabia que não ia acabar nunca mais, tanto é que não acabou, não tem vacina até hoje. Perdemos Renato Russo, Cazuza, Freddie Mercury; a gente via pessoas morrendo. A gente começou a operar muita gente com o HIV positivo, tinha toda uma preocupação de operar e se contaminar. Com coragem, enfrentamos a pandemia do HIV, mas a gente sabe que veio para ficar.  Depois entrou numa fase de endemia. A mesma coisa em relação à Covid-19, se der certo a vacina, fica sob controle, mas não vai acabar e vamos conviver com ela de agora pra frente; se Deus quiser, sob controle.

E a Medicina evoluiu muito. Quais foram as principais mudanças que o senhor testemunhou?

Quando eu fiz residência, em Goiânia tinha talvez dois ou três aparelhos de ultrassonografia, a gente resolvia tudo sem ultrassom. O pré-natal, a indicação de parto eram feitos com base no estetoscópio, pressão, mãos, olhos, pinard. Quando não tinha jeito de resolver uma situação, tinha que ir atrás e pedir favor a amigos no particular. Hoje em dia só na maternidade tem dois ultrassons. Um jovem hoje, para ele isso é normal. Na prática do dia a dia é uma mudança muito grande, sem contar outros exames como tomografia, ressonância. UTI sempre tivemos, mas os recursos eram mínimos. O gotejamento do soro era no relógio e no olho, inclusive para medicações perigosas. Hoje tem equipamentos de monitorização, de avaliar batimentos, bomba de infusão para administrar medicação… São mudanças que hoje em dia parecem não ser grande coisa, são praticamente uma obrigação do hospital. Nós, médicos mais velhos, temos uma vantagem porque a gente trabalhou em condições precárias não porque era ruim, mas porque era outra época, outros equipamentos. A carga de conhecimento prático de clínica era muito grande, não ficávamos dependendo de exames complementares. Hoje tem muita tecnologia e talvez pouca experiência prática. A gente viveu a época que não tinha tecnologia e hoje a tecnologia é bem mais avançada, de fácil acesso.


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Fonte: Sempre UFG

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