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Administrador e poeta, conheça Felipe Moura de Souza

On 10/15/21 12:04 .

Egresso da Faculdade de Administração conta sobre sua trajetória de vida acadêmica e seus desafios

Texto: Flávia Novais Cardoso

 

Felipe Moura de Souza, ingressou na UFG pela Faculdade de Informação e Comunicação - FIC no ano de 2011 e terminou sua trajetória na graduação como administrador no ano de 2018. Trilhou um caminho incomum, que mudou completamente sua forma de ver a vida e sua carreira, e o ajudou a compreender que cada um possui seus próprios desafios e necessidades pessoais, histórias de vida diferentes e, portanto, caminhos diferentes serão trilhados. Em entrevista à Sempre UFG, Felipe conta um pouco do caminho que ele trilhou.

 

O que você poderia nos dizer sobre você, sua trajetória e suas vivências no tempo de graduação na UFG? 

Desde os 15 anos a UFG se tornou um plano de vida pra mim. Foi difícil conseguir, mas deu certo! Aos 17 anos passei no curso de Publicidade e Propaganda, hoje tenho 28 anos; então fazem 10 anos que comecei minha trajetória profissional, e foi a UFG quem abriu as portas pra mim. Não saí da UFG publicitário, como eu sonhava, mas saí administrador. Hoje estou em um momento profissional de entender aquilo que eu não quero para que o que eu quero possa ter um espaço de vazão mais fluido. Descobri recentemente, em um processo de descoberta pessoal, querer ser um escritor, ser poeta.

Bom, entrei em Publicidade e Propaganda em 2011, fiz  2 anos do curso, enfrentei uma greve extensa no ano de 2012, e como todo mundo que vive a Universidade, também vive uma vida paralela, que é a vida pessoal, aconteceram várias coisas nesse meu processo. Eu precisava trabalhar, enquanto homem homossexual, eu precisei viver vários processos na minha vida; um deles foi sair de casa e morar fora, com outras pessoas. Morei com um amigo do meu curso por 1 ano e meio.

Depois que a greve chegou ao fim, eu já estava muito afiado no sentido de trabalho, já conhecia o mercado de uma forma não-tradicional: eu precisava trabalhar e seguir a minha vida. O curso era à tarde e isso me possibilitou continuar estudando. Nesse percurso me descobri vendedor por vivência, por sobrevivência; fui aprendendo a servir e a  liderar, aprendendo gestão e me apaixonando por esse lugar, que era o lugar em que eu precisava estar nesse momento. Eu via meus amigos avançarem no curso, conseguirem o primeiro estágio, o segundo, o estágio criativo, respeitando seu próprio processo de aprendizagem e eu não podia fazer o mesmo, o que eu podia fazer era trabalhar e seguir a minha vida. Então mais ou menos no ano de 2013, depois que as atividades voltaram, eu já estava com uma maturidade diferente; nesse período de greve e de retorno  – mais ou menos 8 meses  –  eu já tinha virado adulto. Não dava mais para ser só estudante, o que foi um grande pesar, porque era o meu sonho.

Sempre conto uma história engraçada. No segundo período de Publicidade e propaganda eu já tinha um pouco claro o que eu talvez iria seguir enquanto publicitário: ser redator. Havia uma redatora que eu admirava muito – admiro muito – no mercado goiano que é a Sussi Cortes, também egressa da UFG, e na época a Sussi ainda era uma das sócias da Pagu Propaganda, hoje somos amigos, ela é minha mentora de carreira, e eu falo com ela, brincando: “Que bom que você me recusou para trabalhar duas ou três vezes, não me deu estágio. Fez com que eu me tornasse administrador; a culpa é sua! É sua culpa eu ter feito administração, era pra eu ser publicitário, mas acabei me tornando publicitário de alma!”

Então no ano de 2013 eu consegui fazer uma transferência interna (eu tinha uma média boa) e ingressar no curso de administração em 2013/2; e aí começa minha nova jornada de vida, muito diferente da antiga FACOMB (Faculdade de Comunicação e Biblioteconomia, atual FIC) onde eu vivia – um lugar aberto, diverso, colorido, cheio de linguagem, onde eu era muito bem aceito –, na administração eu precisei viver uma montanha russa de muita dificuldade. Eu não tenho muita habilidade com finanças, com estatística, com as “matemáticas” no geral; e eu precisava aprender. Era um curso noturno, em que eu podia trabalhar durante o dia e estudar a noite, chegava a ficar 16 horas fora de casa: eu trabalhava, pegava vários ônibus e estudava. E eu não trabalhava em estágio ou na minha área, eu trabalhava em pé, no shopping. Eu trabalhei 4 anos no shopping durante minha vida pela faculdade.

E mais uma vez via meus amigos conseguindo os melhores estágios, conseguindo ir pra fora do Brasil, participei de inúmeras colações de grau em que o professor Edward falava, orava, e eu chorava, porque eu via os meus amigos conseguirem o sonho: se formar com 21, 22, 23 anos, e eu não; eu ainda tinha um longo caminho pela frente, e eu precisava  continuar, pois era o que precisava ser feito, era a forma como eu poderia estudar. 

Quando eu entrei na faculdade de administração, eu disse pra mim mesmo: “No mínimo eu vou aprender a administrar melhor a minha vida.” Então eu fui descobrindo que fui sendo redator e escritor em cada possibilidade que eu via, aprendi a me comunicar melhor, treinei muita oratória em todas as apresentações na administração, melhorava, me lapidava; estudei muito sobre a área de pessoas na administração (o que não é o foco do curso na UFG, pois Administração é um curso que nasce da Faculdade de Agronomia, então é um curso que nasce de uma engenharia), tive pouquíssimos amigos na faculdade – acho que dois, mais especificamente,  – e diante desse cenário, fui fazendo tudo o que eu podia fazer. 

Em 2015, pleiteei uma vaga para intercâmbio e fui aprovado. Fiz um processo de mobilidade acadêmica pelo Grupo Montevidéu, fui para Mendoza, onde estudei por 6 meses com bolsa, voltei do intercâmbio e então começa minha trajetória profissional dentro da Gestão. Em 2016 consegui meu primeiro estágio no SEBRAE como estagiário de Gestão de Pessoas, estagiei por 1 ano, e parecia ser o que eu realmente queria fazer: redigir, escrever uma história, lidar com pessoas. Nesse mesmo ano, ainda estagiando no SEBRAE, descobri que eu precisava passar por alguns desafios no curso de administração, com as matérias de matemática; eu tinha muita dificuldade e ansiedade, meu foco era terminar o curso e pegar meu diploma, e isso me angustiava, pois era uma coisa que demorava, e eu precisava passar por esses desafios.

Então descobri que na UFG havia um projeto voluntário de práticas de Yoga, uma das professoras era da Faculdade de Educação Física, a Natália Beatriz. Comecei ainda em 2016, toda segunda, quarta e sexta eu saía do estágio correndo com meu tapetinho e ia para o Câmpus Samambaia fazer a prática; desde então o Yoga e a meditação não saíram da minha vida, e isso foi me dando base, sustentação para conseguir ter calma e paciência para continuar o curso, passar nas diversas matérias de matemática e finalmente, em 2018/2, eu pego meu diploma.

Na graduação passei por projeto de extensão e por projeto de pesquisa; pesquisei empreendedorismo por cerca 1 ano no Centro de Inovação com o Prof. Dr. Cândido, pesquisando sobre o processo de criação de empresas para jovens em situação de vulnerabilidade e pobreza, mas não pude continuar esse projeto e TCC pois, mais uma vez, eu precisava trabalhar. No fim de 2017, tomei a decisão de não continuar a pesquisa e, em 4 meses, comecei um TCC do zero, um plano de negócios para abrir um hostel, uma pousada na cidade de Alto Paraíso de Goiás. Esse plano de negócios foi aprovado em 2018 com nota máxima e 1 anos depois eu o apliquei no Prêmio de TCC e Empreendedorismo UFG, onde ganhei o 1° lugar e um cheque de mil reais como premiação. 

Assim, acredito que minha trajetória na UFG de 7 anos e meio foi realmente um combo de experiências: pude empreender, pesquisar, fazer essa social, aprender línguas, morei fora, passei por dois cursos... Meu curso de graduação foi um extensivo, como que uma Graduação-Mestrado. E esse sou eu hoje: sou Gestor Estratégico de Marketing, redator, fotógrafo, Yogue, trabalho com meditação, com a respiração consciente, trabalho com muitas questões da consciência sistêmica; acho que hoje me tornei uma pessoa multitarefa, multicultural, “multidisciplina”, um cara que consegue ver o todo e agir nos detalhes também. Isso é um pouquinho sobre mim, dificilmente alguém vai ver um perfil como o meu, não é comum, e acho que é o que eu sou mesmo: sou incomum.  

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Felipe Moura de Souza
Acervo pessoal

 

Também gostaríamos de saber quais são as marcas que a UFG deixou na sua vida pessoal e/ou profissional hoje.

As marcas que a UFG deixa na minha vida é que um sonho é possível e que estudar é o melhor caminho para tudo, independente do que você vai fazer. E há uma frase de um livro que li no meu primeiro período de administração, em 2013. O livro se chama Eu sou Malala. Malala é uma menina que lutava pela educação de meninas e mulheres contra o Talibã, e que ganhou o prêmio Nobel da Paz aos 16 anos. Depois de ler esse livro, meu olhar para o curso de administração mudou completamente: comecei a ver que eu poderia ser um tipo de profissional, ou um outro tipo, e eu escolhi ser um profissional mais humano, mesmo estando em uma Escola de negócios; durante todo o curso de administração, o meu viés, o meu olhar foi para os direitos humanos – independente do que isso quer dizer na sua literalidade –, para o humano. 

Assim, a maior marca que a UFG me deixa é que existe espaço sim para olhar para o humano, principalmente nas matérias, disciplinas e cursos que são exatos; acho que de exato o mundo não tem nada. Esse foi o grande ensinamento que deixou em mim, um sentimento e uma marca de humanidade fortíssimos. Eu precisei de várias coisas e a UFG conseguiu me dar muitas delas, naquilo que ela podia. Sou muito grato, não poderia ter feito nada disso se não fosse a UFG. E a frase de Malala diz: “Uma caneta, um professor e um livro podem mudar o mundo”. Essa é a máxima que ela me deixa: que sim, nós conseguimos mudar o mundo, pelo menos o nosso mundo.

  

Para finalizar gostaríamos de deixar um espaço para você compartilhar algo conosco livremente, talvez algum poema que você fez recentemente.

Essa semana fiz um microtexto dizendo o que é a administração pra mim.

O que é o administrador? É aquele que “administra a dor”. Trazendo para o contexto da poesia, da literatura, da escrita, da narrativa, é o que eu consegui me tornar. O texto diz:

"As lições de um poeta

diplomado em administração

que vê na ação o clarão

de resolver um, dois, três ou mais

problemão"

 

 

Você é egresso(a) da UFG e deseja contar sua trajetória? Entre em contato conosco pelo e-mail: sempreufg@ufg.br.

Source: Sempre UFG

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